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Artigo: Perdoar ou condenar?

Será que algum cristão acredita que Jesus Cristo seria a favor da pena morte? Um verdadeiro seguidor de Cristo, certamente, responderia que não a esta pergunta. Ainda assim vemos algo acontecendo hoje, que mesmo em meio a esse clima de insegurança em que vivemos, não condiz com a resposta quase uníssona que esperamos para esta questão. Percebemos nas bocas de muitas pessoas que se autodeclaram cristãos, católicos ou protestantes, o velho discurso de que “bandido bom é bandido morto”, “esse teve o que mereceu” ou o de que “não adianta prender, tem logo que matar para limpar a sociedade”.

O debate que alcançou todo o país ganhou mais força em fevereiro de 2014 quando um grupo autointitulado “Os Justiceiros” amarrou um menino de 15 anos a um poste no bairro do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro, após ele ter roubado a bolsa de uma mulher e ter sido acusado pelo grupo de ter cometido outros roubos pela região. Se o jovem era inocente ou culpado, esse não é o mérito da discussão aqui. A grande questão é qual a correta postura cristã em relação a esse episódio:simplesmente condenar ou dar a ele uma segunda chance? Ou quantas chances tiverem que ser dadas (Mt 18, 21-35).

Imaginem se esses “justiceiros” tivessem a possibilidade de levar esse menino acusado de roubo até a presença de Jesus para que Ele o julgasse, assim como os fariseus fizeram com a adúltera (Jo 8,1-11). Alguém consegue imaginar Cristo olhando para o jovem e dizendo que era para apedrejá-lo (ou amarrá-lo a um poste) porque assim ele iria “ter o que merecia”. Alguém pode imaginar ouvir da boda de Jesus que “bandido bom é bandido morto”? Se Ele perdoou a prostituta por que faria diferente com esse menino?

Obviamente Ele não teria outra conduta que não fosse o perdão. E, se ser cristão é ser um imitador de Cristo, por que muitos repetem esses bordões com tanta “propriedade”?

Padre Zezinho já cantava que é preciso “amar como Jesus amou; sonhar como Jesus sonhou; pensar como Jesus pensou; viver como Jesus viveu; sentir o que Jesus sentia”, por que ainda erramos com esse tipo de ódio contra um ser humano e não fazendo o que Jesus faria?

Cristo quando condenado à morte após ser julgado culpado pelo mundo, foi crucifixado em meio a dois bandidos, condenados igualmente a morte pelo mundo assim como Ele. Mesmo ferido e quase morrendo devido aos ferimentos, um dos ladrões olhou para Cristo, reconheceu suas falhas e pediu perdão. A postura do Messias em relação ao criminoso foi a do perdão, pois mesmo que ele tivesse sido condenado e confessado diante do mundo o seu crime e estivesse sendo castigado por isso, Cristo o perdoou – assim como deve ser a atitude de seus seguidores (Lc 23,39-43).

Querer uma penitenciária mais humana não é defender direitos de bandidos, mas direitos de um homem que foi criado como a imagem e semelhança de Deus e merece compaixão não importa o que crime que tenha cometido.

A real atitude cristã foi a do Papa João Paulo II, que em 13 de maio de 1981 foi baleado e gravemente ferido pelo turco/facista Mehmet Ali Agca, tendo o abdômen e o intestino perfurados. Meses depois, já recuperado, o Papa João Paulo II visitou o seu agressor na prisão de Rebibbia, em Roma, e ao sair da visita disse a mãe do criminoso: “Fique calma, pois já perdoei seu filho”.

Qualquer atitude que não se assemelhe a esta, não é uma postura cristã. Por mais que seja difícil, é preciso, pois Cristo nunca disse que iria ser fácil ser um de seus seguidores.